PASSANDO-SE
NELLA LARSEN
Duas mulheres “passam-se” por brancas na racista sociedade americana dos anos 1920. Uma faz parte da elite do Harlem, a outra casou-se com um racista violento. Clássico do colorismo e do feminismo negro, em sua primeira tradução em português.
Pela primeira vez ela sofreu e rebelou-se por não poder ignorar o fardo da raça. Já era suficiente, gritou em silêncio, sofrer como mulher, um indivíduo, por conta própria, sem ter de sofrer pela raça também.
Nella Larsen, filha de pai caribenho e mãe dinamarquesa, passou a infância em um bairro operário branco de Chicago e a vida adulta na burguesia negra do Harlem. Publicou, em 1928, Areia movediça (Quicksand), romance com tintas autobiográficas sobre uma mulher de ascendência africana e escandinava em seu permanente deslocamento em um mundo em preto ou branco. No ano seguinte publicou Passando-se (Passing) sobre a tensa dinâmica entre duas negras (segundo as leis Jim Crow) que “passam-se”, social ou intelectualmente, por brancas em plena Renascença do Harlem, o movimento cultural que inicialmente a renegou e do qual hoje Nella Larsen é considerada um dos maiores expoentes. Os livros lhe trouxeram reconhecimento mas também o ostracismo e ela que, em dois anos criou duas obras fundamentais, não publicaria nada mais até sua morte, sozinha, em 1964.